Você foi picado por um mosquito mas não sentiu coceira nem viu aquele calombo vermelho característico? Isso pode ser um sinal de que quem te picou foi o Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue. Diferente dos pernilongos comuns, a picada desse vetor é silenciosa, praticamente indolor e muitas vezes passa completamente despercebida – características que o tornam ainda mais perigoso.
Com mais de seis milhões de casos prováveis de dengue registrados no Brasil somente em 2024, entender como funciona a picada do Aedes aegypti deixou de ser curiosidade e tornou-se conhecimento essencial de proteção. A maioria das pessoas é picada sem perceber, descobrindo a infecção apenas dias depois quando os sintomas aparecem.
Este guia completo vai explicar por que a picada do mosquito da dengue é diferente, onde ele prefere picar, em quais horários está mais ativo, como diferenciar sua picada da de outros mosquitos e, principalmente, o que fazer quando suspeitar de exposição ao vetor. Conhecimento que pode literalmente salvar vidas.
Por que a picada do Aedes aegypti é diferente de outros mosquitos
A primeira coisa que surpreende quem aprende sobre o mosquito da dengue é descobrir que sua picada raramente causa aquela coceira irritante característica das picadas de pernilongo. Existe uma explicação biológica fascinante para isso.
A saliva anestésica: o truque biológico do mosquito
A saliva da fêmea do Aedes aegypti contém substâncias anestésicas que entorpecem a região da picada enquanto ela se alimenta. Esse mecanismo evolutivo permite que o mosquito sugue sangue por mais tempo sem ser detectado e morto pela vítima.
Além do efeito anestésico, a saliva também possui propriedades anticoagulantes que mantêm o sangue fluindo livremente enquanto o mosquito se alimenta. Essa combinação de anestesia e anticoagulação explica por que a maioria das pessoas não sente absolutamente nada durante ou imediatamente após a picada.
A bióloga Beatriz, em entrevista sobre diferenças entre mosquitos, explica que “isso acontece por causa da ação anestésica das substâncias que ele libera na região da picada ao se alimentar do nosso sangue. Por isso, as picadas do mosquito da dengue podem passar despercebidas”.
Comparação com a picada do pernilongo comum
Para entender melhor essa diferença, vamos comparar as características das picadas:
Pernilongo (Culex quinquefasciatus):
- Deixa pequeno calombo avermelhado
- Provoca coceira intensa e imediata
- Causa vermelhidão visível
- Pode formar bolha no local
- Reação alérgica facilmente perceptível
- Desconforto dura horas ou dias
Aedes aegypti (mosquito da dengue):
- Geralmente não deixa marcas visíveis
- Não provoca coceira na maioria dos casos
- Não causa dor perceptível
- Ausência de vermelhidão significativa
- Picada passa despercebida
- Quando há reação, é muito leve e discreta
Essa diferença dramática torna o Aedes aegypti especialmente eficiente como vetor de doenças. Enquanto você mata rapidamente um pernilongo que está te incomodando, o mosquito da dengue pode picar, sugar sangue e ir embora sem que você sequer perceba sua presença.
Exceções: quando a picada pode coçar
Embora seja raro, algumas pessoas podem apresentar reação à picada do Aedes aegypti. Isso acontece porque a sensibilidade individual varia – algumas pessoas são mais sensíveis aos componentes da saliva do mosquito que outras.
Mesmo nesses casos, a reação costuma ser muito mais branda que a provocada por pernilongos. Pode surgir leve coceira ou pequena vermelhidão, mas geralmente de intensidade muito menor e duração mais curta.
É importante destacar: mesmo que haja reação leve, é impossível distinguir visualmente a picada do Aedes aegypti da de um mosquito comum apenas observando a marca. A ausência de coceira e marcas é característica, mas não é absoluta em todas as pessoas.
Onde o mosquito da dengue prefere picar
O Aedes aegypti não pica aleatoriamente. Seu comportamento de picada segue padrões específicos relacionados ao seu voo e estratégia de alimentação.
Pernas, tornozelos e pés: os alvos preferenciais
O mosquito da dengue tem um alvo preferencial bem definido: pernas, tornozelos e pés. Essa predileção não é por acaso – está diretamente relacionada ao comportamento de voo do inseto.
O Aedes aegypti voa baixo, geralmente a uma altura de meio metro do solo (50 centímetros). Esse voo rasteiro coloca a fêmea naturalmente na altura das extremidades inferiores quando se aproxima de uma pessoa em pé ou sentada.
O Museu de História Natural do Funchal, que monitora o mosquito desde 2005, confirma que “em geral, escolhem a zona dos pés e dos tornozelos para picar”. Pesquisadores de diversas instituições brasileiras documentaram esse mesmo padrão comportamental.
Especialistas em biologia comportamental, como o professor Fábio Prezoto da Universidade Federal de Juiz de Fora, reforçam que “as fêmeas costumam picar o ser humano na parte do começo da manhã ou no final da tarde, picando nas regiões dos pés, tornozelos e pernas. Isto ocorre, pois costumam voar a uma altura máxima de meio metro do solo”.
Outras partes do corpo também podem ser atingidas
Apesar da preferência clara pelas pernas, o mosquito da dengue pode picar qualquer parte exposta do corpo se houver oportunidade. O Instituto Butantan destaca que “esses insetos agem em locais e horários diferentes; entender o que eles buscam pode ajudar no manejo e na prevenção”.
Braços, mãos, pescoço e rosto podem ser picados, especialmente quando a pessoa está deitada ou em posições que aproximam essas partes do corpo da altura de voo do mosquito. Em ambientes fechados onde o mosquito está dentro de casa, as chances de picadas em diferentes regiões aumentam.
A Secretaria de Saúde de São Paulo, ao descrever o comportamento do vetor, menciona que ele “revela, aproximando-se do hospedeiro pela retaguarda, quase inaudivelmente uma especial predileção pelos membros inferiores e superiores (tornozelos e cotovelos)”.
Por que o comportamento de voo importa
Compreender que o mosquito voa baixo tem implicações práticas para proteção. Usar calças compridas e meias oferece proteção significativamente maior que usar shorts ou saias curtas, já que cobre justamente as áreas preferencialmente atacadas.
Aplicar repelente nas pernas e pés torna-se prioritário, mais importante até que aplicar em braços e tronco. Essa estratégia direcionada maximiza a eficácia da proteção individual.
Para crianças pequenas que engatinham ou brincam no chão, o risco aumenta porque estão constantemente na altura ideal para o mosquito. Atenção redobrada é necessária nesses casos.
Horários de maior atividade: quando o risco é maior
O mosquito da dengue não pica uniformemente ao longo do dia. Seu comportamento segue um padrão circadiano bem definido, com picos de atividade em horários específicos.
Amanhecer e entardecer: os momentos críticos
O Aedes aegypti é um mosquito com hábitos diurnos, concentrando sua atividade especialmente em dois períodos:
Primeiras horas da manhã (aproximadamente 7h às 10h): logo após o nascer do sol, o mosquito desperta e busca alimento ativamente. Este é um dos períodos de maior risco de picadas.
Final da tarde (aproximadamente 16h às 18h): antes que a luz natural desapareça completamente, há outro pico de atividade alimentar. O mosquito aproveita as últimas horas de claridade para se alimentar.
A Prefeitura de Porto Alegre, em material educativo sobre o vetor, esclarece que “a fêmea pica normalmente no início da manhã e final da tarde”. O Ministério da Saúde confirma esse padrão ao afirmar que a fêmea “tem hábitos preferencialmente diurnos e alimenta-se de sangue humano” nesses períodos.
A OPAS/OMS, em seus documentos técnicos sobre dengue, especifica que “o mosquito é mais ativo no início da manhã e ao anoitecer, fazendo com que esses sejam os períodos de maior risco de picadas”.
Mas ele também pode picar à noite
Um mito comum é que o Aedes aegypti nunca pica à noite. Isso não é verdade. Embora suas preferências sejam diurnas, o mosquito é oportunista.
O Ministério da Saúde é claro: “Mas ele também pode picar à noite? Sim. Ele não deixa a oportunidade passar.” Se uma fêmea que precisa se alimentar encontra um hospedeiro disponível à noite, ela picará.
O especialista em biologia comportamental reforça: “O Aedes aegypti não havia sido erradicado no Brasil durante a metade do século passado? É verdade que o mosquito só atua durante o dia e sempre pica da nossa perna para baixo?” A resposta científica mostra que, embora tenha preferências claras, o mosquito não é rigidamente limitado a elas.
Em ambientes internos com iluminação artificial, o comportamento pode ser ligeiramente alterado. Mosquitos que entraram nas casas durante o dia podem permanecer ali e picar durante a noite se necessário.
Implicações práticas dos horários de atividade
Conhecer os horários de maior atividade permite ajustar comportamentos protetivos:
Pela manhã: ao fazer exercícios ao ar livre, trabalhar no jardim ou simplesmente tomar café na varanda, aplicar repelente antes é essencial. Roupas compridas nesses horários adicionam proteção.
No final da tarde: momento em que crianças brincam ao ar livre, pessoas chegam do trabalho e aproveitam quintais. É justamente quando o mosquito está mais ativo. Revisão da aplicação de repelente é importante.
Durante o dia: mesmo em horários intermediários (meio-dia, início da tarde), o risco existe. Não baixar completamente a guarda em nenhum momento do dia é prudente em áreas com circulação do vírus.
À noite: embora o risco seja menor, não é zero. Manter telas mosquiteiras instaladas protege contra eventuais picadas noturnas e, principalmente, impede que mosquitos entrem e permaneçam dentro de casa até o dia seguinte.
Como diferenciar o mosquito da dengue do pernilongo comum
Identificar corretamente o Aedes aegypti permite tomar ações mais direcionadas e alertar autoridades sanitárias sobre a presença do vetor em determinada área.
Diferenças físicas visíveis
Tamanho: O Aedes aegypti mede entre 3 e 4 milímetros, sendo relativamente pequeno. O Culex quinquefasciatus (pernilongo) é ligeiramente maior, medindo entre 5 e 7 milímetros. A diferença não é dramática, mas perceptível quando observados lado a lado.
Coloração: Esta é a diferença mais marcante. O pernilongo possui coloração uniforme marrom por todo o corpo e pernas. O Aedes aegypti tem corpo preto com listras brancas distintas na cabeça, tórax (formando desenho que lembra uma lira) e pernas com anéis brancos nas articulações.
Asas: Ambos têm asas translúcidas, mas o Aedes costuma ter asas perfeitamente transparentes, enquanto o Culex pode ter leve tonalidade.
A National Geographic, em matéria sobre diferenciação de mosquitos, destaca que “o mosquito da dengue é preto com listras brancas na cabeça, no corpo e nas pernas, e suas asas são translúcidas” como características distintivas claras.
Comportamento de voo e som
Ruído: Esta diferença é imediatamente perceptível. O pernilongo produz aquele zumbido irritante característico, especialmente audível à noite. O Aedes aegypti é praticamente silencioso – seu voo não produz som audível ao ouvido humano.
Se você está ouvindo um mosquito zumbindo ao redor da sua cabeça à noite, pode ter certeza: não é o Aedes aegypti. É um Culex ou outra espécie, mas não o transmissor da dengue.
Velocidade e agilidade: O Aedes aegypti tem voo rápido e ágil, enquanto o pernilongo é mais lento. A Agência Brasil, em material explicativo, confirma que “o Aedes aegypti é mais veloz e silencioso” comparado ao Culex.
Hábitos de reprodução e criadouros
Embora ambos ponham ovos em água parada, há diferenças importantes:
Aedes aegypti:
- Prefere água limpa ou pouco poluída
- Deposita ovos individualmente em múltiplos locais
- Coloca ovos nas paredes dos recipientes, acima da linha d’água
- Ovos são extremamente resistentes, sobrevivendo até um ano secos
Culex quinquefasciatus:
- Prefere água suja e poluída com matéria orgânica
- Deposita ovos juntos em formato de jangada
- Coloca ovos diretamente na superfície da água
- Ovos ressecam rapidamente sem água, tornando-se inviáveis
Para entender completamente como o mosquito se desenvolve e quais criadouros busca, é fundamental conhecer o ciclo de vida completo do Aedes aegypti, desde o ovo até o adulto transmissor.
O que fazer quando for picado
Ser picado pelo Aedes aegypti não significa automaticamente que você contraiu dengue. A fêmea precisa estar infectada com o vírus para transmitir a doença. Entretanto, algumas precauções são importantes.
Reação imediata: não há tratamento para a picada em si
Diferente de picadas de abelhas ou formigas que requerem tratamento local imediato, a picada do mosquito da dengue geralmente não precisa de nenhuma intervenção específica no momento.
Se houver coceira ou vermelhidão (o que é raro), pode-se:
- Lavar o local com água e sabão
- Aplicar compressa fria se houver incômodo
- Evitar coçar para não criar porta de entrada para infecções secundárias
- Usar hidratante se a pele estiver ressecada
Não há necessidade de aplicar pomadas, álcool ou outros produtos. A picada em si é inofensiva – o problema é o vírus que pode ter sido transmitido.
Monitoramento de sintomas: a janela crítica
O período de incubação da dengue – tempo entre a picada do mosquito infectado e o aparecimento dos primeiros sintomas – varia entre 3 e 15 dias, com média de 5 a 7 dias.
Portanto, se você foi picado (ou suspeita ter sido picado, já que muitas vezes não percebemos), fique atento aos sintomas característicos nos dias seguintes:
Sintomas clássicos da dengue:
- Febre alta de início súbito (acima de 38°C)
- Dor de cabeça intensa
- Dor atrás dos olhos (retro-ocular)
- Dores musculares e articulares intensas
- Prostração e mal-estar
- Manchas vermelhas pelo corpo
- Náuseas e vômitos
Sinais de alarme que indicam gravidade:
- Dor abdominal intensa e contínua
- Vômitos persistentes
- Sangramento de mucosas (nariz, gengivas)
- Acúmulo de líquidos
- Letargia ou irritabilidade
- Hipotensão postural (tontura ao levantar)
O Ministério da Saúde e a OPAS/OMS têm protocolos claros: ao apresentar febre e pelo menos dois dos outros sintomas, procurar atendimento médico imediatamente.
Não se automedicar
Um dos alertas mais importantes é nunca tomar ácido acetilsalicílico (AAS/aspirina) ou anti-inflamatórios quando há suspeita de dengue. Esses medicamentos aumentam o risco de hemorragias, complicando gravemente o quadro.
O tratamento da dengue é basicamente de suporte: hidratação abundante, repouso e uso de paracetamol ou dipirona para dor e febre (sempre com orientação médica). Não existe medicamento antiviral específico para dengue.
Prevenção: o melhor remédio continua sendo evitar a picada
Como não há tratamento específico para dengue, a prevenção é absolutamente prioritária. Isso significa evitar que o mosquito pique e, mais importante ainda, eliminar criadouros para reduzir a população de vetores.
Proteção individual: repelentes e roupas
Repelentes aprovados: Use apenas produtos aprovados pela ANVISA contendo DEET, icaridina ou IR3535. Estudos científicos mostram que icaridina a 20-25% fornece maior proteção contra o Aedes aegypti.
Aplicar repelente prioritariamente nas pernas, pés e tornozelos maximiza a proteção, já que são os locais preferenciais de picada. Não esquecer de reaplicar conforme indicação do fabricante.
Roupas adequadas: Calças compridas, meias e sapatos fechados oferecem barreira física eficaz. Prefira roupas claras – pesquisas mostram que o mosquito tem preferência por cores escuras.
Um estudo recente da Universidade Federal de Lavras revelou que o aparelho bucal alongado das fêmeas do Aedes aegypti permite que elas piquem através de roupas finas. Portanto, mesmo usando roupas compridas, aplicar repelente por baixo adiciona camada extra de proteção.
Barreiras físicas no ambiente
Instalar telas mosquiteiras em janelas e portas cria ambiente protegido dentro de casa. Dados mostram que 75% dos criadouros estão dentro das residências, portanto impedir a entrada do mosquito é fundamental.
Mosquiteiros sobre camas, especialmente para bebês e crianças pequenas, oferecem proteção durante períodos de descanso. Aplicar repelente em spray sobre o mosquiteiro aumenta sua eficácia.
Eliminação de criadouros: o controle definitivo
Por mais importantes que sejam os métodos de proteção individual, eliminar criadouros é a única forma de controlar a população de mosquitos em larga escala.
Dados revelam locais surpreendentes onde o mosquito se reproduz: pratinhos de vasos, bandejas de geladeira e ar-condicionado, calhas entupidas, trilhos de box, brinquedos deixados ao ar livre, bebedouros de animais, ralos com água parada, pneus, garrafas e até tampinhas.
A regra dos 10 minutos semanais recomendada pelo Ministério da Saúde baseia-se no conhecimento do ciclo de vida: realizar vistoria semanal em todos esses locais interrompe o ciclo antes que larvas se transformem em mosquitos adultos.
O programa Techdengue (techdengue.com), atuando em mais de 630 municípios brasileiros, demonstrou através de mapeamento com drones que a maioria dos criadouros está dentro das residências. Em Belo Horizonte, foram identificados 21 mil criadouros, a maioria em ambiente doméstico.
Esse dado reforça que a solução está literalmente em nossas mãos – eliminar água parada em casa, lavar recipientes com escova para remover ovos grudados nas paredes, tampar caixas d’água, limpar calhas e manter o ambiente livre de objetos que acumulem água.
Diferenças importantes entre dengue, zika e chikungunya
O Aedes aegypti transmite não apenas dengue, mas também zika e chikungunya. Embora a picada seja idêntica (já que é o mesmo mosquito), os sintomas das doenças diferem significativamente.
Dengue
Os sintomas da dengue incluem febre alta, dor de cabeça intensa, dor atrás dos olhos, prostração, dores musculares e manchas vermelhas pelo corpo que podem ou não coçar. O período de incubação é de 3 a 15 dias após a picada.
Zika
Os sinais de infecção por zika são parecidos com dengue, mas geralmente mais leves. A febre costuma ser mais baixa (entre 37,8° e 38,5°C), há dor nas articulações principalmente em mãos e pés, manchas vermelhas com coceira mais intensa que na dengue, e vermelhidão nos olhos (conjuntivite) – algo que não acontece nas outras doenças.
A grande preocupação com zika é em gestantes, devido à associação com microcefalia em bebês.
Chikungunya
O nome vem de uma palavra africana que significa “dobrar-se de dor”, o que descreve bem o sintoma principal: dores articulares extremamente intensas, descritas como quase insuportáveis. A febre é alta e de início rápido, mas são as dores nas articulações dos pés, mãos, dedos, tornozelos e pulsos que caracterizam a doença.
Diferente da dengue, onde as dores articulares melhoram após alguns dias, na chikungunya podem persistir por semanas ou meses, tornando-se crônicas em alguns casos.
Mitos e verdades sobre a picada do mosquito da dengue
Mito: Todo mosquito listrado transmite dengue. Verdade: Apenas o Aedes aegypti e, em menor escala, o Aedes albopictus transmitem dengue no Brasil. Existem outras espécies listradas que não transmitem.
Mito: Se a picada não coçou, não foi Aedes aegypti. Verdade: A ausência de coceira é justamente uma característica típica da picada do Aedes, embora algumas pessoas possam ter reação leve.
Mito: O mosquito só pica durante o dia. Verdade: Ele prefere picar durante o dia (manhã e tarde), mas é oportunista e pode picar à noite se encontrar um hospedeiro disponível.
Mito: Toda picada de Aedes aegypti transmite dengue. Verdade: Apenas fêmeas infectadas transmitem o vírus. Se o mosquito não estiver infectado, a picada é inofensiva (exceto pelo desconforto da picada em si).
Mito: Usar vitamina B evita picadas. Verdade: Estudos nas décadas de 1960 e 1970 testaram essa hipótese. Dois grandes estudos demonstraram que vitamina B não tem efeito repelente algum.
Mito: O mosquito pica apenas pernas porque não voa mais alto. Verdade parcial: Embora voe baixo e prefira pernas, o mosquito pode picar qualquer parte exposta do corpo se houver oportunidade.
Mito: Repelentes caseiros de citronela são tão eficazes quanto os industriais. Verdade: A ANVISA não reconhece repelentes caseiros como eficazes. Apenas produtos com DEET, icaridina ou IR3535 têm eficácia comprovada.
Populações de maior risco
Embora qualquer pessoa possa contrair dengue, alguns grupos merecem atenção especial por estarem em maior risco de desenvolver formas graves.
Bebês e crianças pequenas
Crianças não podem usar todos os tipos de repelentes. Bebês menores de seis meses não devem usar repelente algum – a proteção deve ser feita com mosquiteiros, telas, roupas adequadas e, principalmente, eliminação de criadouros.
De 6 meses a 2 anos, apenas IR3535 é recomendado. Acima de 2 anos, todos os repelentes aprovados podem ser usados, mas sempre seguindo as instruções de idade da embalagem.
Gestantes
Grávidas podem e devem usar repelentes, preferencialmente icaridina por ter duração maior (10 horas), permitindo aplicação uma vez ao dia e reduzindo exposição a odores que podem causar enjoos.
A preocupação com zika vírus tornou a proteção de gestantes prioridade absoluta. Barreiras físicas (roupas, telas) combinadas com repelente aprovado são essenciais.
Idosos e pessoas com comorbidades
Idosos apresentam maior risco de desenvolver dengue grave e complicações que podem levar ao óbito. Pessoas com diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares ou respiratórias crônicas também estão no grupo de risco.
Para essas populações, a prevenção da picada não é apenas conforto – pode ser literalmente questão de vida ou morte.
O papel da vigilância epidemiológica
Quando você é picado e desenvolve sintomas, procurar atendimento médico não beneficia apenas você individualmente. Faz parte de um sistema maior de vigilância que protege toda a comunidade.
Notificação de casos
Casos de dengue são de notificação compulsória. Isso significa que profissionais de saúde devem informar às autoridades sanitárias sempre que diagnosticam a doença.
Esses dados alimentam sistemas de monitoramento em tempo real que permitem identificar surtos precocemente, direcionar ações de controle para áreas críticas e alocar recursos adequadamente.
Tecnologia a serviço da prevenção
O programa Techdengue exemplifica como dados podem se transformar em ação preventiva. Utilizando tecnologia de drones, mapeamento georreferenciado e análises preditivas, o programa alcançou redução superior a 90% de focos em diversos municípios.
Em apenas um voo de 40 minutos, os drones cobrem área equivalente a 80 dias de trabalho de campo de um agente de combate às endemias. Essa eficiência permitiu contribuição estimada de mais de 90 milhões de reais em economia ao sistema público de saúde através da prevenção de casos.
A inteligência de dados permite antecipar surtos semanas antes que ocorram, possibilitando ações preventivas ao invés de apenas reativas.
Conclusão: conhecimento que protege
A picada do mosquito da dengue é enganosamente silenciosa. Não dói, raramente coça, muitas vezes passa completamente despercebida. Mas pode transmitir vírus que causam doenças graves e potencialmente fatais.
Entender que o mosquito prefere picar pernas e pés, que está mais ativo pela manhã e final da tarde, que sua picada não coça como a do pernilongo e que pode picar sem você perceber muda completamente a forma como nos protegemos.
Não podemos confiar em sentir a picada para tomar ação. A proteção precisa ser proativa: repelentes aplicados antes da exposição, roupas adequadas usadas preventivamente, telas instaladas permanentemente, criadouros eliminados semanalmente.
A boa notícia é que o mosquito, apesar de eficiente, tem vulnerabilidades. Seu ciclo de vida de apenas 7 a 10 dias significa que ação semanal interrompe sua reprodução. Sua preferência por água limpa e recipientes artificiais significa que controlamos seus criadouros. Seu voo baixo e hábitos diurnos significam que sabemos quando e onde nos proteger melhor.
Integrar esse conhecimento sobre a picada com outras medidas – telas mosquiteiras, plantas complementares, eliminação rigorosa de criadouros e participação em programas comunitários de prevenção – cria múltiplas camadas de proteção.
Para uma estratégia completa de prevenção que integra todos esses elementos, explore nosso guia completo sobre como evitar a dengue, que consolida as melhores práticas baseadas em evidências científicas.
A picada do Aedes aegypti pode ser silenciosa, mas nossa resposta não precisa ser. Conhecimento informado, ação consistente e vigilância comunitária são as armas mais poderosas contra o mosquito e as doenças que ele transmite. E agora você tem esse conhecimento.